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As "falhas ambientais" na nossa formação como analistas

  • Foto do escritor: Alana Loiola
    Alana Loiola
  • 10 de jan.
  • 2 min de leitura

Em um grupo de estudos em clínica psicanalítica (formado por uma maior parte de psis de Fortaleza), discutíamos as falhas ambientais - a partir da perspectiva winnicottiana -, mas logo depois outros desdobramentos aconteceram.


A gente se deparou com a nossa própria formação, desde a universidade, os caminhos feitos em supervisões, as transmissões em que nos foram feitas, e começamos a questionar o quão falha pode uma formação acontecer.


De qual lugar uma formação começa?

Para onde se endereça? Nossa escuta clínica está sendo formada a partir de quais teorias, epistemologia e técnicas? E se esse aprendizado fará sentido, poderá operar nos lugares em que atuamos (imaginem clínica além de um divã).


Nos questionamos, mas não ficamos em silêncio. Me deparei com uma fala de um professor querido da minha formação, em um momento me disse que era necessário “criarmos um dispositivo clínico para fazer escuta de diferentes corpos e sofrimentos, sem perder de vista a ética do cuidado, fazendo manutenção da nossa vitalidade clínica, também”.


O que ele me disse foi algo que pensei desde a graduação nas supervisões de estágio, quando me questionei sobre a técnica, sobre as interpretações maciças no manejo clínico.


Vamos nos situar da realidade brasileira, da realidade social - Nordeste - Ceará - Fortaleza, é preciso ser muito cuidadoso nas referências em que usamos para fazer escuta, para construir uma clínica e um fazer psicanalítico nos diferentes contextos.


Me pergunto se há esperança numa formação psicanalítica que não se curve às teorias hegemônicas-ocidentais-brancas-europeias.


Há! É preciso que haja!


Esse grupo que citei, tem sido, há pelo menos 4 anos, esse lugar, onde repensamos texto a texto, semana a semana, caso a caso, o dispositivo clínico, considerando além da realidade psíquica, mas a realidade da qual compartilhamos, e as diferenças também.


Por que parece um tabu denunciarmos essas “falhas”? Por que parece difícil admitir essas falhas que são estruturais, no sentido social, econômico e epistemológico?


Reinventar um dispositivo requer mais responsabilidade, eu penso. Principalmente, porque temos que se considerar tudo aquilo que as teorias excluíram por décadas em nossa formação, apagando o pensamento científico de autores dissidentes e marginais.


Vou pegar emprestado duas visões, de Sueli Carneiro e Grada Kilomba, penso que ambas comunicam o quanto precisamos falar de um lugar nosso e legítimo, retirar do outro/branco/europeu o direito de dizer quem somos e como fomos constituídos. Falar sobre os silenciamentos, denunciá-los.


Nossa formação também atravessa esse caminho, é preciso que se reconheça os mecanismos que operam essas falhas: negação, apagamento e tantos outros.


Assim, no que perpassa os fenômenos de transferências e contratransferências, “o fanatismo da interpretação faz parte das doenças de infância do analista” (Ferenczi, 1928) acredito que esse trecho denuncia o “fetiche” do psicanalista tão polido e inoxidável em suas interpretações, no qual perde de vista sua função com a ética do cuidado.


É, são muitas questões, não pretendo procurar as respostas sozinha, mas em rede, com meus pares.


Ousar, insurgir e criar, ou em termos winnicottiano, recriar um espaço potencial.



Alana Loiola


Psicanalista e Psicóloga CRP 11/11842

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