Você me deu possibilidades, me ofereceu uma sensibilidade e eu pude nomeá-la

Cara escritora, de voz macia, cabelos crespos e mãos que cuidam de uma filha, escrevo-te como se pudesse chegar até ti e beijar teu rosto e te abraçar, suas frases acompanharam-me algumas noites, em algumas salas de espera e em leituras coletivas.

Penso que você tenha me ensinado também a olhar de forma mais bonita para minha cor, penso que isso pode ter chegado em minha vida de forma atrasada, mas precisei te ler para reconhecer. Os meus olhos te leram, por alguns segundos, pensei que pudesse ver a vida com os mesmos olhos que tu vês. Mas não.

Você me deu possibilidades, me ofereceu uma sensibilidade e eu pude nomeá-la.

Além de grata, precisei de ti para ver também a vida, ver uma vida que ainda não conseguia, outra vida, outras vidas.

Mas antes caminhei, sobre alguns lugares e experiências que ainda são vivas, não são apenas memórias, pude me apaixonar pelo mistério de Capitu, odiar Bentinho, e depois me confundir com os dois. Me incomodar com O Cortiço e, somente, depois entendê-lo. Me identificar com Lóri, posteriormente, diferenciar-me para que pudesse caminhar de outra jeito.

Fazer o encontro da música com a leituras e, partir delas, criar minhas histórias imaginárias, com enredos mais bonitos do que a vida que eu levava comigo.

Nem sei quando comecei, ou quando parei e recomecei, mas foi de escritoras e escritores que entrei numa casa que não era minha, uma casa que funcionava como um corpo, onde ele também pudesse ser meu, pelos minutos que as linhas, as frases longas cruzavam com meus olhos pueris e curiosos, eu morei em outros lugares escritos por vocês.

E assim, escrevo-lhes como se pudessem encontrar-me.

Texto dedicado a grandiosidade de Conceição Evaristo, como caminho pela sua escrita.

Pode encontrá-lo também no Instagram do coletivo da Confraria dos Trouxas https://www.instagram.com/aconfrariadostrouxas?utm_source=ig_web_button_share_sheet&igsh=ZDNlZDc0MzIxNw==

Alana Loiola