Isso é um convite.
- Alana Loiola
- 5 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de jul. de 2024
Quero te fazer um convite, um convite ao sensível, sem apologias, sem apelação cristã, um convite ao sensível, que está para todos, de forma desigual, em escalas socioeconômicas e geográficas.
Quero te fazer um convite ao sensível, a tudo que salta nos seus olhos e você não quer ver, não quer tocar, pode feder, pode ‘pegar’, pode sujar, um convite para olhar e enxergar.
Quero te fazer um convite ao que você já enxerga, um convite para ouvir a dor, a dor da vizinha que cobre marcas no rosto com maquiagem barata, a dor da sua demanda não atendida, a dor que às vezes vai à emergência, ou busca se entorpecer, depende de como ela circula dentro.
Quero te fazer convite para ver, ver os detalhes, convido-te também ao que está escancarado.
Quero te fazer um convite a se ouvir, falar baixinho para si mesmo, ouvir sobre sua vulnerabilidade, onde muitas vezes encontra outra vulnerabilidade, e se negam, pelo medo delas coexistirem, e juntas se entrelaçarem nessa confusa vida, quero te fazer um convite a falar, falar pelas palavras escritas, ou pela música, música também é palavra.
Quero te fazer um convite a ouvir a música, sugeriria qualquer música do Caetano ou da Elza, pode ser uma instrumental, mas só de te convidar, você já possa imaginar uma música, música são palavras muito bem ritmadas, as nossas às vezes só não estão no bom compasso, mas também são palavras.
Volto a te convidar, te convido a olhar para suas palavras, as escritas, as faladas, as digitadas numa pequena tela, as que você deixou de dizer, ensaiou no banho, abreviou por receios, fez sopa de letrinhas e engoliu, combinou com sua amiga, ou àquelas que ainda estão formando uma frase difícil de ser dita e ouvida por si mesmo.
Quero te fazer um convite.
Te faço um convite a usá-las, primeiramente, para si, escrevê-las no seu tecido mais sensível, na mancha da sua história de vida, nas linhas que formam seus medos e perguntas sem resposta.
Te farei um convite ao sensível, aquilo que talvez você nunca dirá em voz alta à alguém, mas ecoará, limitadas somente pela sua pele e pela ponta dos dedos.
Para tudo que é sensível, que possam ter palavras para alcançá-las, não precisam estar certas, semanticamente bonitas ou coesas, palavras que sejam suas, vulneráveis e alcançáveis, um convite para dizer sim.
Isso parece uma oração.
Um convite para ouvir, escutar, ver, enxergar e tocar aquilo que lhe atravessa, isso talvez pode ser afeto. Ou faz morada.
Isso é um convite.