Em respeito a escrita da margem

Quando comecei a pesquisar sobre a juventude, imaginei que seria um mergulho que me transformaria, não pela complexidade que uma pesquisa se faz, mas porque entendia que existia lugares internos que eu iria visitar, lugares estes que me trazem gostos amargos da opressão e dos apagamentos.

Essa semana, em discussão no grupo de estudos, falamos como é raro ou inexistente ver professores, professoras, intelectuais negros na graduação e nas nossas formações posteriores. Quando isso se dá, quando outro corpo como o nosso fala do lugar do conhecimento, emerge algum tipo de esperança em nós. Ao encontrar a juventude das periferias e de outros municípios do Ceará, encontrei uma esperança que precisava, esperança viva nos jovens que sonham e imaginam viver dos seus sonhos, transformar seus muros e mundos. Isso reacendeu a jovem Alana quando ainda sonhava em ser escritora e psicóloga, e esta jovem Alana ainda sonha, vive desse sonho, ele não se esgotou.

Quando pesquiso e escrevo sobre a juventude e as vulnerabilidades que cercam, confirmo que uma escrita acadêmica também se faz com insistência, eu escrevo a partir do lugar que vim, das dores que também senti e que não senti, pesquiso para dar outros sentidos e linguagens a cena acadêmica, não se faz pesquisa somente com pensamento dominante e com neutralidade.

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“Meus escritos podem ser incorporados de emoção e subjetividade, pois, contrariando o academicismo tradicional, as/os intelectuais negras/os se nomeiam bem como seus locais de fala e escrita, criando um novo discurso com uma nova linguagem. Eu como mulher negra, escrevo com palavras que descreve minha realidade, não com palavras que descrevem a realidade de um erudito branco, pois escrevemos de lugares diferentes.” (Grada Kilomba, Memórias da Plantação, p. 58 e 59).

- Créditos da imagem: Exposição "Comigo Ninguém Pode", na Caixa Cultural de Fortaleza, em set/24, do artista @jeffalanmf

Alana Loiola

Psicanalista e Psicóloga CRP 11/11842

@alanaloiolapsicologa