A vida e suas faltas (de garantia)
- Alana Loiola
- 6 de fev.
- 2 min de leitura
“Ah, quem dera que as garantias da vida fossem como a de um celular”: Essa frase escapou de mim há meses na minha análise, em que eu me deparei querendo muito ter a garantia de alguns processos pessoais e emocionais.
Com essa frase, num tom de piada, sobre a minha impotência, entendi que eu precisava fazer algumas coisas, eu sabia o que fazer, mas o que eu sentia não tinha um tempo certo de acabar. Eu não poderia ter a data da finitude, somente do início.
Pensar sobre o tempo da vida é pensar também no início e no fim.
Quando alguém chega à clínica e ou outros lugares em que fiz escutas, me angustiei em alguns momentos de não poder dar garantia alguma para um paciente, o risco que temos em dar garantia é contar que a vida não tem infortúnios, acidentes, desencontros, finitude, violências e rupturas. E essa vida faz e se refaz em coletivo.
O processo de uma escuta clínica, ou seja, uma análise, uma psicoterapia ou mesmo uma consulta terapêutica em instituições, não tem garantia que o temor de um sentimento irá passar, e talvez a beleza (e desgraça) desse processo muitas vezes seja esse, de se deparar com um tempo do sentir, de cada sujeito, em cada contexto.
Temos pressa para que o mal-estar acabe. Essa pressa também se aplica a alegria?
Penso que a dinâmica do capitalismo, junto com essa necessidade em demasia de produção – resultado – entrega – também foi-se construindo dentro de nós, se acoplou a nossa subjetividade de tal forma que gostaríamos de garantir que “tal coisa” acabe logo.
É aí que tá: é com a ética do cuidado que deveríamos nos sustentar, considerar que essa pressa tem origem e é atravessada por questões maiores que nós (infelizmente). Que possamos pelo menos compreender o tempo do nosso sofrimento diante da vida, diante do contexto que tem muita influência sobre como vivemos e sentimos.
Não há garantias para a vida psíquica ou a vida real (só a do celular e nem é completa rs), não há garantias que um luto tem tempo de acabar, quando a paixão chega, se o medo vai embora, que a felicidade deveria durar uma vida inteira. Não somos estáticos como a fotografia e, por não sermos, o tempo que anda correndo quer que a gente corra também muitas vezes antes de aprendermos a andar.
É como crescer, um bebê primeiro engatinha, recebe ajuda, anda, recebe ajuda, cai, levanta-se, anda novamente... só depois para poder correr.
Estamos alinhados com que tempo?
Alana Loiola
Psicanalista e Psicóloga CRP 11/11842