Por que a Campanha do Janeiro Branco não contempla a saúde mental?
- Alana Loiola
- 10 de jan.
- 2 min de leitura
Tem anos que venho observando a Campanha do Janeiro Branco (assim como setembro amarelo), principalmente, quando eu atuava em escolas, onde que existia um movimento de trabalhar a saúde mental de forma muito categórica e pontual.
Categórica no sentido de explicar, exemplificar, enumerar “dicas”, numa tentativa de sensibilizar aos diferentes públicos sobre os cuidados a saúde mental.
O ponto que sempre me pegava era: nenhuma realidade é completamente igual, em uma sala de aula, no meu consultório, os beneficiários dos projetos sociais - lugares em que atuei como psicóloga desde que me formei.
Em cada uma destas realidade, todas eram atravessadas por questões muitos específicas: sociais, econômicas, educacionais, relacionais, familiares, acessos a rede de cuidados (saúde, políticas públicas), ambiente (cidade, bairro, comunidade).
Por que a saúde mental é composta por esse combo? O sujeito está inserido no laço social, e como muito bem descrito pela OMS (Organização mundial da saúde): “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”. Com isso já podemos partir que esses aspectos não estão separados.
Saúde mental parece estar em um grande guarda-chuva chamado sociedade, portanto, é necessário consideramos os aspectos da sociedade que atravessam e inscrevem no sujeito dores-experiências-sofrimentos-cuidados-ou ausência deles.
Se ainda colocamos a saúde mental somente como uma problema individual (como tenho visto nas campanhas), há o grande risco de estarmos cometendo mais um desserviço.
Porque a palavra que compõe é um problema: a ideia de Branco vem de noção de higienizar, limpar > lembramos um pouco da história da saúde no Brasil. Políticas de saúde higienistas colocaram populações periféricas e mais pobres em situação de exclusão.
O branco sendo associado ao bem-estar e à saude, uma forma sofisticada de racismo, uma política de saúde associada ao branqueamento de ideias em relação ao cuidado à saúde mental, ou seja, com certo toque higienista - vide as políticas de saúde no início do século 20 no Brasil.
Penso que já passamos do momento de se situar que as violências raciais em nossa linguagem e ações.
Numa tentativa de responder a pergunta: por que essa campanha não contempla de fato a saúde mental? Porque ainda lhe falta considerar seu próprio nome como manifestação problemática, como também trabalhar em sua campanha o fortalecimento da saúde coletiva desde da base, daqueles que estão na linha de frente, da valorização do serviço em rede e do acesso aos usuários.
Saúde mental sempre será uma questão coletiva!
Alana Loiola
Psicanalista e Psicóloga 11/11842