“Você acha bonito o jeito que você cuida das coisas?”

Essa foi uma pergunta que uma amiga fez.

Dias antes, nós estávamos conversando alguma trivialidade no direct do Instagram e ela me solta:

— Alana, acho muito bonito o jeito que você cuida das suas coisas. Aquilo me assustou, foi a primeira sensação que tive quando li, susto. Depois, fiquei a pensar o porquê. Por que eu fiquei assustada com essa afirmativa dela? Por que é difícil enxergar a beleza da simplicidade? Por que é difícil admitir a boniteza naquilo que fazemos? Não sei se as perguntas cabem a todos, mas as faço.

Ainda cabe beleza no nosso dia a dia? Em um café da manhã de uma segunda-feira? Ou na sopa quente? Cabe nas breves frases de consolo de uma amiga? Na sala em que enfeitamos? Na planta que cresce mais? — Fiz isso! Ela está mais bonita depois que minhas mãos a cuidaram.

Se cuidamos de tanto, alguém pode estar cuidando menos ou nada. Quem não cuida, faz o quê? Vive a espera que façam por ti? Que cuidem de ti?

— Nós mulheres somos “ensinadas” a cuidar quando ainda nem sabemos o que isso significa, o ato de cuidar impregna em nós desde muito cedo.

Nos ensinam a cuidar das bonecas, da roupa que “deveríamos” vestir, das pessoas que “deveriam” nos amar, temos que estar cuidando para que a vida não desabe.

E quem desaba quando não cuidamos?

Para que a gente sobreviva, é necessário que alguém cuide de nós, ou mais do que alguém, é necessário que a gente sinta que estamos amparados, isso não está no campo da nossa consciência, é muito mais.

Quantos momentos você teve a sensação de que iria desabar e não teria alguém para recorrer? Se nossas respostas tendem mais para a solidão que para o cuidado, alguém pode ter falhado conosco. Mas isso não precisa ser o “fim” ou a única resposta possível.

Cuidar é ato grandioso, porque existe um par, ou muitos, nos cuidar é também, trabalhoso e necessário. E aí, me pergunto de novo, temos a possibilidade de achar bonito o jeito que cuidamos de tudo ou de todos? Penso, que algumas estruturas precisam ser reformuladas, repensadas, para que a gente possa encontrar beleza naquilo que cuidamos, no nosso autocuidado.

Nos tiraram a oportunidade de encontrar beleza em cuidar de coisas e não-coisas, mas que bom que estamos falhando nessa missão que nos foi dada.

Espero que encontremos beleza na nossa liberdade de escolher do que vamos cuidar. E que nós sejamos a primeira opção.

De repente, isso caberá a decepção de alguns. Pois então, quem sabe, com isso a roda gire para outro lado e possamos ver mais beleza do que cansaço.

Um texto especial dedicado aquelas e aqueles que cuidam e aqueles que ainda podem aprender.

Alana Loiola